quarta-feira, 20 de novembro de 2013

*O MORTO*



**ESTE TEXTO É A CONTINUAÇÃO DO CONTO "O MORTO" DE LUCIANO SILVA VIEIRA.

Nunca esquecerei o dia em que o vi: o morto.
O homem morto jazia no chão, seus olhos, tais como duas diminutas esferas de vidro, refletiam o vazio.
“Ele pulou” – falou alguém – “o pobre coitado se matou.”
Nunca havia visto um morto antes e na minha mente infantil aquele acontecimento marcava uma fronteira em minha curta existência, pela primeira vez me dava conta da finitude da vida, não éramos eternos como pensava até então, um dia a vida acaba.
Assim deixei o morto, mas o morto não me deixou. Foi comigo em meus pensamentos, seus olhos de vidro se abriam sempre quando eu fechava os meus...
Foi assim que naquele dia resolvi matar aula. Depois de ver o morto simplesmente atravessei a rua e desviei da multidão que se formava em volta do corpo. Eu sentia um frio na alma, uma solidão inexplicável.  Corri o mais rápido que pude, quase me perdendo entre as ruas do centro da cidade.
Cheguei em casa apavorado.
Ouvi minha mãe preparando o almoço. Já no quarto, joguei a mochila num canto e fiquei paralisado sentado ao lado da cama.
– Luciano , meu filho? É você?
Ouvi minha mãe chamando lá da cozinha. Não respondi.
– Luciano? O que aconteceu criatura? Não era para você estar na escola uma hora destas?
– Não teve aula mãe, menti em voz baixa.
– O quê? Não ouvi. Vem já aqui, dizia dona Délia, sem paciência.
Levantei do meu refugio e fui tentar explicar o inexplicável:
– Não teve aula mãe, teve um acidente perto da escola e a gente foi dispensado.
– Que acidente? Ai meu Deus, você está bem?
– Tô mãe. Para, não aconteceu nada comigo, eu dizia me esquivando das mãos preocupadas de mamãe que já procuravam possíveis machucados hediondos em meu corpo.
Contei a ela metade da história. Disse que no caminho houve um acidente, alguém fora atropelado, ou se jogou de um prédio.
– Minha nossa senhora. E você viu alguma coisa?
– Não, não vi nada. Me deixa mãe. Tô com fome. O que tem pro almoço, disse eu desviando o assunto.
– Ah Lucinho ainda vai demorar. Perdi muito tempo tentando falar com seu avô. Me atrasei com tudo, reclamava dona Délia falando sem respirar. Ele está cada vez mais difícil. Você acredita que já liguei três vezes e ele não atendeu o telefone? Você sabe que...ah, deixa pra lá. Já que você não teve aula, vá ler alguma coisa enquanto termino essa comida.
Obedeci. Voltei ao quarto, me joguei na cama e fechei os olhos. Cada vez que eu tentava pegar no sono, os olhos do morto me encaravam. Abriam-se em minha mente.  Era como se eu e ele fossemos um só. A primeira vez foi um susto. Quase cai da cama.
Os olhos se abriam dentro de mim e passaram a me mostrar o que viam. E eu via a mim mesmo. Mas não conseguia entender: eu estava deitado e me via em pé na minha frente. Foi quando me dei conta que eu via através dos olhos do morto. Era a cena do acidente. O momento em que passei por ele.
Acordei num pulo e abafei um grito. Nesse momento mamãe me chamou para o almoço. Sentei a mesa sem conseguir comer muita coisa.
– Este menino tá muito estranho hoje, comentava minha mãe com o passarinho de estimação que mantinha na gaiola perto da lavanderia.
Voltei ao quarto e estava com medo de fechar meus olhos novamente.
Desisti de ficar sozinho. Sai, fui andar pela rua. Encontrei a turminha do futebol, aceitei uma partida. Fomos lanchar na casa do Fernando e a tarde passou rapidamente.
Quando voltei pra casa meu pai já estava na sala com seu tradicional copinho de cerveja na mão.
– Boa noite, Luciano. Vai logo tomar banho que sua mãe já vai servir o jantar.
Assim fiz. Fui jantar. Assisti um pouco de TV e sucumbi ao sono. Fui quase me arrastando de volta ao quarto.
Puxei a coberta e mesmo sem querer fechei os olhos. Nesse momento cai. Cai num buraco profundo e quando cheguei ao chão me vi andando. Andava por ruas escuras cheia de bêbados. Postes mal iluminavam as pedras da calçada. O lugar cheirava a mijo. Na esquina uma mulher de cabelos cacheados, de vestido avermelhado, me chamava com o cigarro na mão:
– Senhorzinho, o programa custa menos de mil-réis.
Dobrei a esquina e me deparei com a polícia cuidando de um caso de morte. Cheguei perto e pude ver mais uma vez um corpo. O corpo de um homem estrangulado.
Encarei o morto e mais uma vez veio aquela sensação de estar conectado a ele, éramos um só. Eu via ele e me via através dele. Nessa hora acordei. Pulei da cama como se levasse um choque. Olhei o relógio da cabeceira e percebi: eu dormira apenas meia hora.
Tentei me acalmar e voltei a respirar normalmente. Novamente veio o sono e fechei os olhos. Por dentro de mim um novo par de olhos se abriu. Era dia e eu caminhava por uma trilha florida. O sol queimava meu rosto. Olhei em volta e a praia se mostrou. Era uma bela tarde de verão. Crianças brincavam na areia. Casais namoravam em frente ao mar. As roupas de banho eram recatadas, parecidíssimas com as que eu vira em alguma obra de arte na casa de vovô. Segui andando pela passarela beira-mar. Logo adiante a paisagem mudou. Uma multidão se aglomerava na calçada. Abri caminho e vi o corpo da mulher que se estendia no chão. Uma moça de não mais de vinte anos havia levado uma facada. Sangue se espalhava pelos cabelos. Olhei a cena, e vi a mulher me encarando. Olhos quase de vidro que me imploravam por ajuda. Dessa vez não acordei imediatamente. Dei dois passos em direção a ela. Nos conectamos e nesse momento a mulher mexeu os lábios. Eu me assustei. Despertei suando.
Não dormi mais naquela noite.
A partir dali meus sonhos tornaram-se pesadelos. Toda vez que eu fechava os olhos da realidade, passava a ver com os olhos internos. E a rotina era a mesma: encontrava um morto que me olhava, me conectava a ele e via tudo o que ele via. Cada morto que eu encarava me olhava de volta. Fui perdendo o medo. Aos poucos fui chegando mais perto.
Naquela noite o morto que encontrei foi uma criança pouco mais velha que eu. Uma menina que ao me encarar me chamou pelo nome: Luciano.
Reconheci a menina. Era a mesma que estava numa foto na casa dos meus avós. Puxei pela memória e lembrei: era a filha de uma das escravas amiga de minha bisavó. Ela sussurrou meu nome mais uma vez. Fui até ela e colei o ouvido em sua boca. A moça me disse com todas as letras: foi dom Martin. Me conectei a ela e pude ver tudo o que havia acontecido momentos antes de sua morte.
Acordei gritando. Pela primeira vez pude ver e ouvir o que os mortos tentavam me falar.
Sai agitado para a escola. Uma pesquisa rápida na biblioteca e descobri que dom Martin havia sido um senhor de engenho muito conhecido na cidade. Era rico e próspero. Meu avô havia me contado que minha bisavó morou nas terras dele trabalhando na mansão para ajudar minha tataravó com os serviços domésticos. Havia algumas poucas escravas ainda por lá. E a menina era filha de uma delas.
A garota que apareceu no sonho foi encontrada morta na casa de dom Martin. A explicação registrada pela polícia foi de que a criança havia caído da escadaria da mansão e batido a cabeça. Mas eu sabia da verdade: a morta me mostrou. Ela fora espancada até a morte por dom Martin, que além de estuprar a criança quis dar uma lição para que a garota não abrisse a boca. Bateu tanto que ela morreu. E agora eu sabia de tudo. Fiquei indignado. Prometi a mim mesmo que colocaria a boca no trombone. A justiça precisava ser feita.
Fui para casa arquitetando um plano para desenterrar casos antigos onde poucos se importavam em resolver e ainda acusar um rico fundador  da cidade de assassinato. Não parava de pensar naquilo. Dispensei o jantar e fui dormir sem tirar a menina da cabeça.
Naquela noite meus olhos internos me levaram para a rua onde encontrei o meu primeiro corpo. Estava eu novamente em frente ao morto que me encarava com diminutas esferas de vidro que refletiam o vazio. Dessa vez não sai correndo. Fiquei ali, firme, esperando ele mexer a boca.
E assim foi. O morto me chamou para perto. Fui andando lentamente até ele. Nessa hora ele falou: foi o delegado Diego. E a cena do delegado atirando o homem pela janela estava nítida na minha frente. Eu acabara de saber que o meu “primeiro morto” havia sido assassinado por um delegado para manter em segredo um esquema de lavagem de dinheiro.
 Acordei com a boca seca. Um delegado? Como assim? Na minha cabeça infantil eu achava impossível um homem da lei matar alguém. Perdia ali mais uma parte importante da minha inocência.
Não dormi mais. Passei a pensar como diabos eu, um menino franzino, mal saindo das fraldas, estudante mediano, vou ser levado a sério para desvendar essa série de crimes? E como alguém vai acreditar que falei com os mortos? Que vi as cenas das mortes através dos olhos das vítimas?
Havia três dias que vira o homem morto pelo delegado e eu estava perdido, mas alguma coisa precisava ser feita.
No outro dia pela manhã fui correndo falar com meu avô. “Ele sabe das coisas, só ele pode me dar uma solução”, pensei.
Cheguei a sua casinha no fim da rua e a porta estava trancada. Bati, bati e ouvi devagar os passos dele.
– Entra menino, estava te esperando.
Contei toda a história para o meu avô que pacientemente me ouviu sem dizer uma palavra. Quando terminei de falar apenas me disse:
– É que estou muito cansado. Vou embora e deixo pra você essa minha herança. Se cuida moleque. Levantou e foi em direção ao quarto.
Sai atrás dele sem entender nada. Quando cheguei no quarto encontrei o corpo do meu avô deitado na cama. Duro. Frio, quase roxo.
O médico legista avisou minha mãe que o velho estava morto havia três dias. Minha mãe se culpou por não ter procurado o próprio pai pessoalmente.
– Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa, dizia ela em prantos... Quando ele não atendeu o telefone, eu sabia... Lamentava e chorava mais ainda.
Eu guardei o segredo dele para sempre. Agora ele faz parte de mim. Meu avô deixava para mim seu dom de falar com mortos.
Achei em uma mala embaixo da cama dele vários recortes de jornais carcomidos pelo tempo que falavam dos casos da mulher esfaqueada na praia, do homem estrangulado e como misteriosamente os assassinatos haviam sido desvendados. Também achei informações sobre a filha da escrava e dom Martin. Meu avô tentara de todas as formas incriminar o senhor de engenho, mas foi tudo em vão. Ele desistiu.
Cresci e também desisti. Aquele caso continuaria sem solução. O peso disso na minha alma me deixa cada dia mais triste e descrente.
Sigo pela vida tentando entender a morte. Sempre com os olhos dos mortos me encarando e pedindo socorro. Nem sempre faço justiça. Às vezes ela é impossível. Torço para que a justiça divina faça o que deve ser feito.
Agora deixa eu ir. Estou atrasado para o turno noturno na delegacia.
Hoje com certeza vai ser mais uma noite de assassinatos e casos inexplicáveis. Ou quase.
FIM

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O BISTRÔ





ATENÇÃO, PROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS:

http://www.recantodasletras.com.br/contoseroticos/4562815
OU
http://www.historia-erotica.com.br/contos-eroticos/madame-red/o-bistro
PARA QUEM GOSTA DE HISTÓRIAS PICANTES. O TEXTO É DA MADAME RED E ESTÁ NO LIVRO "CONTOS ERÓTICOS PARA LER A DOIS". UM BEIJO.

Ana Cristina tinha o costume de ir à loja no final da tarde. Cleber ficava ansioso esperando ela chegar.
Ele ajudava o pai. Ficava no caixa da loja de doces. Tomava conta de dois garçons, uma doceira e de uma menina “faz tudo”. O bistrô era pequeno, mas muito charmoso, todo em estilo “retrô”. Ana Cristina pedia sempre um capuccino e nunca dispensava um pedaço de torta.
Naquela tarde Cleber havia discutido com o irmão. Estava furioso. Ana entrou, sentou no canto. Os garçons estavam ocupados, Cleber saiu do caixa e foi falar com ela.
Ana sorriu e pediu apenas o café. Cleber trouxe o pedido e uma torta de nozes. 
– Ei, eu não pedi a torta, avisou ela, simpática.
– Tudo bem, é por conta da casa, explicou ele.
– Ah é? Nossa, o que eu fiz para merecer?
– Você sorriu e me fez perder o mau humor.
Ana sorriu novamente e percebeu que os olhos de Cleber não saíram de cima dela. Gostou do flerte.
Foi embora e Cleber fez questão de não cobrar a conta. Ainda deu uma piscadinha de olho. 
Ana foi embora com a impressão de que dali havia surgido algo mais que um simples café.
No outro dia voltou e encontrou novamente o moço bonito atrás do balcão. Sorriu em direção a ele e disse:
– Hoje, faço questão de pagar, nem adianta insistir.
Ele sorriu de volta e mandou o garçom servir. De longe observava Ana Cristina.  Foi até a mesa e disse:
– No bistrô servimos taças de vinho também. Aceita uma por conta da casa?
Ela riu, gostou da investida, mas disse que não poderia. Dali ainda iria ao teatro. Ele então convidou:
– Depois do teatro então? 
– Não sei não... Disse ela, fazendo certo charme.
– Por favor? Você vem até aqui. Eu abro a porta. Estaremos sozinhos. Meu pai não vai se importar.
– Ah, você é filho do dono?
– Sim, um deles. Muito prazer, Cleber.
– Hum, está bem. Sou Ana, lá pelas nove eu apareço. 
– Está feito então.
Ana Cristina foi para o teatro. Passava em pensamento a conversa que acabara de ter com o “moço bonito da loja de doces”. Era assim que ela havia apelidado ele antes de saber que se chamava Cleber. Também pensou se a calcinha que estava usando era digna de um primeiro encontro. Não era.
Ana Cristina chegou nove e quinze. Bateu devagar na porta. Lá dentro um aconchegante ambiente iluminado por velas esperava por ela.
Tirou o casaco, sentou na cadeira indicada por Cleber. Ele abriu o vinho, ofereceu uns petit four e perguntou como tinha sido a peça de teatro. Ana contou em detalhes.
Ficaram os dois conversando, se conhecendo, se entendendo. O vinho subiu à cabeça de Ana mais rápido do que imaginara e logo estava rindo à toa da conversa de Cleber.
Ele foi se aproximando, e logo estava beijando a mulher com desejo. Ela recebeu seus beijos com tesão. Abraçaram-se e o calor do corpo deles foi aumentando.
Cleber ficou em pé diante dela e a pegou pela mão. Ana levantou meio cambaleando. Os dois se abraçaram. Trocaram mais beijos quentes. Ele então começou a tirar a roupa de Ana Cristina. Ela estava zonza de excitação e vinho. Ajudou Cleber a tirar sua blusa. Ele a beijava enquanto explorava seu corpo. Puxava Ana para perto de si. Tirou a saia que ela usava, tirou a calcinha feia e lambeu o sexo de Ana. Rapidamente, o suficiente para deixa-la louca de desejo. Cleber apertava sua carne, enfiava os dedos em Ana. Deixou a mulher molhada de tantos toques. Chupava os dedos com o gosto dela. Abria a boca de Ana e enfiava a língua. Seus movimentos eram lascivos, sensuais, parecia ter fome dela. 
Ana abaixou em frente a ele e abriu a calça que ele ainda usava. Cleber sentou na mesinha, derrubou o vinho no chão, mas não se importou. Ana tirou o pau dele de dentro das calças.  Estava completamente entregue. 
Ana abocanhou o pau de Cleber, sentindo ele duro pulsando em sua garganta. Chupou, lambeu e agarrou com força. Ele puxava o cabelo dela para ajudar no movimento. Cleber avisou que ia gozar e Ana não se afastou. Deixou ele encher sua boca de porra. Engoliu tudo. Ele a beijou na boca e sentiu seu pau endurecendo novamente. Jogou Ana de barriga na mesa e abriu as pernas dela. Enfiou seu pau com força. Comeu a mulher puxando seu cabelo, arranhando suas costas. Ela sentia o pau dele rasgando suas entranhas. Continuaram a foda assim, com força e loucura.
Quando finalmente se satisfizeram, Ana levantou da mesa, vestiu a roupa e beijou Cleber. Ele ofereceu mais uma taça de vinho. Ela não quis. Ele então serviu água e ambos riram muito da sujeira que fizeram na loja. 
Ana Cristina e Cleber arrumaram toda a bagunça. Ele se prontificou a levá-la em casa, mas ela recusou. Despediram-se na porta da loja com a promessa de se verem em breve.
Dois ou três dias se passaram e Ana não teve tempo de voltar à loja.
Naquela tarde resolveu passar para ver Cleber.
Entrou, sentou-se no lugar de sempre.
Ele veio em sua direção carregando um sorriso ainda mais lindo do que ela lembrava.
– Menina linda, uma torta de morango é pouco para sua beleza, disse ele.
– Ah, que elegante. Obrigada moço bonito, sorria ela.
Ele entregou um café e a torta de morango e voltou para o caixa. 
Ana saboreou o lanche e estava de saída quando ele disse:
–Ei, você não vai me deixar aqui sozinho hoje, não é?
– Hum, por quê? 
– Porque eu preciso te ver mais tarde. Você aceita me visitar lá pelas nove da noite? Eu deixo um vinho gelando.
Ana Cristina riu, e aceitou. 
– Claro, eu volto.
Às nove da noite Ana batia na porta da confeitaria.
O homem lá dentro esperava com todas as luzes apagadas. Abriu a porta em silêncio, pegou Ana pela mão e a levou para os fundos da loja. Lá havia uma porta que dava para um apartamento que ficava conjugado a loja.
– Eu moro aqui. Vem conhecer meu quarto, explicou ele.
Assim foram caminhando pela casa no escuro, chegaram ao quarto dele. A cama era de casal, iluminada por um abajour avermelhado. O ambiente havia sido preparado para esperá-la.
Ana sentou-se na beira da cama. Ele beijou sua boca. Suavemente. Fazia carícias delicadas em seu corpo. Beijou seus mamilos, deu pequenas mordidas. Encarava Ana nos olhos. Estava tão amável, romântico, doce. Tiraram a roupa e ficaram se tocando, se olhando, se sentindo. Ele cheirou o corpo de Ana e deitou-se na cama com ela. Subiu nela e enfiou seu pau no corpo da mulher que esperava por ele. Possuiu Ana devagar, enfiando e tirando com nenhuma pressa. Ana rebolava embaixo dele. 
Ele virou Ana de bruços, mandou que ela ficasse de quatro pra ele. Ela obedeceu. Ele lambeu sua boceta. Ana gemia. Ele entrou nela novamente rasgando aos poucos a carne que pulsava em seu pau. O movimento era lento, mas gostoso. Gozaram os dois assim.
Beijaram-se e ela adormeceu. Acordou assustada no meio da noite. Estava sozinha no quarto. Pegou sua roupa e foi devagar de volta pelo corredor escuro. Passou pela cozinha e lá viu o impossível: havia dois Cleberes lá dentro. Ela demorou a entender. Eram os irmãos, gêmeos. Eram iguais. Pouca coisa se percebia de diferença. Ouviu um pouco da conversa: 
– Cleber, como você vai se apaixonar por ela? Ela nem percebeu a diferença! 
– Hebert, deixa de ser idiota. Ela pensou que estava comigo. E deixa de ser machista sem-vergonha. 
– Vadia sim, foi só dizer que ela era linda que caiu no meu papo.
– Ela não sabia, seu imbecil. Estava dando bola para mim e não para você. Hebert eu não admito que você faça isso novamente.
O irmão ria. Cleber estava exasperado porque realmente havia gostado de Ana. 
Ela manteve o silêncio e foi embora tentando entender o que havia acontecido.
– Filho da puta, eu pensei que fosse Cleber nas duas vezes. Maldizia Ana quase chorando.
Foi para casa. Não conseguiu dormir. Apesar de achar uma sacanagem os gêmeos terem a dividido, ela gostou. 
E gostou tanto do Cleber selvagem e honesto quanto do Hebert romântico e cafajeste.
No outro dia Ana chegou calada. Sentou em uma mesa diferente e não olhou para Cleber que estava no caixa.
Pediu apenas água e lia uma revista sem levantar os olhos.
Cleber se aproximou.
– Adorei ontem, mentiu ele.
– Aham, eu também, falou ela indiferente.
– Vamos repetir hoje?
Ana não respondeu. Olhou para os lados, levantou e disse:
– Às nove?
Ele apenas balançou a cabeça e sorriu.
Ela saiu sem pagar a água.
Nove em ponto ela estava lá. Linda como nunca. Usava um vestido vermelho curto que deixava suas pernas à vista.  Cleber a esperava ansioso.
Ana entrou e ele logo a puxou para si, beijou sua boca com desejo. Apertava Ana, queria rasgar a roupa dela, mas apenas levantou o vestido e viu que ela usava uma calcinha vermelha sexy, provocante. Bem diferente da calcinha feia do outro dia. Cleber sentou Ana na cadeira e se ajoelhou na sua frente, abriu as pernas dela e caiu de boca no sexo da mulher que cheirava a almíscar. Enterrou a língua no clitóris dela, e sentiu cada pulsação de prazer que Ana revelava. 
Ela levantou e estava pronta pra ele. Virou de costas e ele enfiou o pau naquela boceta molhada enquanto apertava os seios de Ana. Os movimentos eram rápidos, seguros, fortes. Ele tirou o pau de dentro dela e gozou nas costas de Ana. Espalhou seu sêmen pela bunda, sujou a mulher com o gozo dele. Mas Ana queria mais. Puxou ele para si e mandou que batesse nela. Ele levou um susto!
Bateu suavemente no rosto de Ana. Mas ela pediu mais força, pediu para ser machucada.
– Me bate como homem. Me machuca. Me chama de puta. Dizia Ana quase histérica. 
Cleber ficou aturdido. Não entendeu aquela reação de sua doce Ana. Mas entrou no jogo e machucou a mulher. Ele gostava desse sexo selvagem. Bateu como ela pediu, e novamente a virou de costas e a comeu com força. Ana queria tomar no cu. E ele obedeceu. Currou a mulher que gritava enlouquecida de prazer. 
Quando enfim terminaram, Ana lançou um olhar misterioso para Cleber, como se soubesse de toda armação. Se despediram e ela foi embora deixando para trás um intenso perfume que Cleber nunca antes tinha sentido.
Ana apareceu novamente durante a tarde. Cleber não estava no caixa. Era Hebert que estava por lá. Sem o menor escrúpulo foi falar com ela:
– Quero mais você.
– Ah é? De vestido vermelho?
Hebert não sabia o que responder, mas fez que sim com a cabeça
– Hoje então. Nove horas, disse ela com um sorriso meio de lado.
Hebert ficou exultante. Ia comer novamente a namoradinha do irmão. 
Nove horas Ana batia na porta. Novamente usava o vestido vermelho. Hebert abriu a porta e beijou-lhe a mão.
Era um verdadeiro gentleman. Ansioso por começar logo a sessão de sexo com Ana, não percebeu a presença do irmão na sombra.
Ficaram ali se beijando até que Cleber acendeu as luzes.
Ana levou um susto. Hebert também.
– O que você está fazendo, cara? Perguntou Hebert.
– Cala a boca, disse Cleber. Virou para ela e disse:
– Ana Cristina, me perdoa. Meu irmão gêmeo te enganou, mas não foi ideia minha.
Ana sorriu.
– Ana Cristina? Não. Essa é minha irmã gêmea. Muito prazer, sou Ana Carolina. FIM

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O HOMEM QUE DESVIAVA


Alexandre era um cara responsável. Pai de Rafael, marido de Julia, filho único de dona Selma. Estava sempre disposto a ajudar. Tinha habilidade em consertar carros, luminárias e amizades. Era ele quem acalmava os nervos da galera quando a discussão esquentava. Ele que trocava as lâmpadas queimadas da casa da mãe viúva. Ele que levava o sogro ao médico. Ele que nas horas vagas distribuía ração para cães abandonados.
Alex, apelido obrigatório, não tinha muitas reclamações sobre a vida. Se dedicava de corpo e alma a fazer o bem. Mais corpo que alma. Alex estava bem acima do peso, mas nem isso tirava seu sono. Bonachão e boa praça. Sabe o tipo? Então, assim era.
Trabalhava em uma imobiliária no centro da cidade. Cidade quente, sem chuva, sem sombras, tomada pelo asfalto. Ia cedo para o serviço. Perdia mais tempo caçando vaga para deixar o carro que rodando pelo caminho. Ele morava pouquíssimos quilômetros da firma, mas a gordura de seu corpo era desculpa para não encarar uma caminhada.
Chegava ao escritório arfando. Dia sim, e no outro também, o elevador estragava e Alex encarava três andares como quem vê os portais do inferno. Vermelho, suando e sem dignidade alguma, entrava na sala, se jogava em sua cadeira e dava início ao dia de multitarefas.
Funcionário exemplar, além de ser responsável por várias contas de aluguel e cobrança de condomínios, tomou para si a obrigação de descer até a lanchonete da esquina para comprar diariamente as guloseimas do escritório. Valia tudo na hora do lanche. De pastel a picolé. E Alex era criativo, nunca repetia o petisco.
Em sua simplicidade, se dizia um homem completo.
– Pra que eu quero mais? Tenho uma mulher linda, um filho cheio de saúde e inteligência, uma casa com piscina e uma sogra que já já bate as botas, ria Alex até engasgar durante o discurso no cafezinho, quando os colegas agradeciam as gentilezas do gordo simpático.
Apesar de todas as alegrias que a vida pode proporcionar a um bom pai e cidadão exemplar, Alex se incomodava com uma coisa: ele era um cara que desviava.
É exatamente isso. Mesmo com todo aquele tamanho, Alex precisava andar sempre, ou quase sempre, em zigue-zague. As pessoas simplesmente não desviavam dele . Se estava subindo a escada escorado no corrimão para se equilibrar e manter o fôlego, lá vinha uma horda descendo os degraus que simplesmente não saia da frente e o obrigava a soltar o corrimão e deixar todo mundo passar. 
Se andava pela rua, quem quer que viesse em sua direção, ia reto, não desviava. Alex se obrigava a dar um passo para o lado.
Era um problema. Pra muita gente, uma bobagem, para Alex, um problemão.
Qualquer duzentos metros de caminhada se transformavam automaticamente em dois quilômetros de tanto que ele desviava das pessoas.
Quando tentava não desviar era de praxe levar esbarrão. E com ele sempre um puxão de orelha:
– Ei, olha por onde anda...
Isso sem contar as diversas vezes que iam lanche, sucos, cafés e respeito para o chão. Tudo porque ele não desviou.
Outro dia, andando apressado pela calçada, não desviou de uma senhora distraída e a mulher bateu com toda força em seu peito. E ainda xingou muito Alex. O homem ficou sem palavras. Não pediu desculpas porque afinal não era culpa dele. Ficou parado olhando a mulher indo embora e para sua surpresa, a tal senhora seguiu caminho desviando de tudo e todos. Naquele momento Alex se perguntou quase em voz alta: por que sempre eu que tenho que sair da frente?
Aproveitou o intervalo do almoço para observar o trânsito, os pedestres, o movimento das ruas. Dividiu a humanidade em dois tipos: os que desviam e os que não desviam. Passou a admirar os que não desviam. Mostravam mais confiança, elegância, força e determinação. Enquanto os outros que saiam da frente geralmente andavam de cabeça baixa, quase cansados. Disposto a fazer parte do mundo dos fortes, bradou a si mesmo:
– A partir de hoje não vou desviar. Venha o que vier, seja quem for, eu não desvio.
Fez o sinal da cruz para garantir a seriedade do juramento.
Manteve a rotina de ir de carro ao trabalho, achou vaga perto da entrada. Ninguém passou por ele. Surpreendentemente o elevador estava funcionando. Desceu no andar do escritório, foi até sua mesa, e nada de precisar desviar.  O dia começava bem.
Hora do lanche, Alex se preparou para ir até a esquina pegar as coxinhas de galinha tradicionais da quinta-feira. Confiante, desceu pelo elevador, atravessou a porta grande do prédio e nem viu que a rua estava praticamente vazia.
Feliz em não precisar desviar de ninguém, Alex caminhou tranquilamente. Nem percebeu que o local estava cercado pela polícia. Naquele momento, bandidos estavam fugindo de um assalto a um banco ali próximo. O centro da cidade estava nervoso. Policiais do esquadrão antibomba gritavam para todos se afastarem, a rua fora interditada, polícia de um lado, ladrões de outro. Sirenes, confusão.
Quando se deu conta do que acontecia Alex saiu correndo, nessa hora começou o tiroteio.
Alex dobrou a esquina para o lado errado e acabou de cara com os bandidos. Ficou paralisado. Sem mexer um músculo, apenas ouvia os gritos dos assaltantes encurralados.  
A primeira reação foi pedir “peloamordedeus” que o deixassem ir, mas Alex lembrou que agora ele era forte, destemido, um homem que não desviava de nada. Não cederia um passo, um centímetro para o lado.
Não teve medo. Manteve o juramento: morreu com uma bala na cabeça porque não saiu da frente.

FIM