http://www.domeuinterior.com.br/os-bancos-das-pracas-arroio-granders/
“A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim”. Sou fascinada por praças. Nelas, o tempo se perde, muitas vezes até dele mesmo. Nasci numa cidadezinha do interior, em Arroio Grande, lá no rabicho do Rio Grande do Sul, quase fronteira com o Uruguai. Típica cidade interiorana, com direito a calçadão, praça em frente à igreja, carnaval de rua, cadeiras na calçada pra dividir um chimarrão e um bate-papo.
Sempre achei que brincar na praça da Igreja era o que havia de mais divertido no mundo: tinha escorregador, gangorra e um brinquedo que girava com a força do braço, onde sempre uma criança acabava se machucando.
Perto de casa até tinha outra pracinha, mas essa não dava as mesmas aventuras da praça principal. Valia a pena andar uns quarteirões.
Os pontos altos eram nos desfiles de 07 de Setembro e no Carnaval. Em setembro, a praça se enchia para ver as bandas das escolas e balizas. No carnaval, dividia-se em camarotes. É, a cidade inteira ocupava a praça para ver os blocos de rua desfilarem nos quatro dias de folia. É tradição até hoje por lá.
E nessa praça e em outras tantas, o que sempre me seduziu foram os banquinhos. Banco de praça me encanta de tal maneira que quando chego a um lugar que nunca fui antes, a primeira coisa que faço é sentar num deles. Me perco observando a vida dançar na minha frente. Cada pessoa que passa carrega uma história. Umas com pesar, outras com alegria. Aliás, não há tempo mais precioso do que aquele que se gasta sentado em um banco de praça, absorvendo as idiossincrasias alheias.
Sempre que faço isso, tenho a estranha mania de inventar um passado, um presente e um futuro pra quem passa por ali. Depende do andar apressado, da roupa amassada, se sorri, se olha pros lados. Inventar a vida do outro é reinventar a nossa aos pouquinhos.
Voltando para Arroio Grande, bem pertinho da minha cidade natal há o balneário Cassino. O lugar está no Guiness, o livro dos Recordes: é a maior praia do mundo.
É grande, mas pequena ao mesmo tempo! É grande em tamanho, mas carrega todas as características de cidade do interior. Esse cantinho no fim do país é onde considero meu segundo lar. E lá o que não falta é praça. Deve ter algum recorde pra isso também. Tem praça atrás da casa da minha mãe, em frente, ao lado, escondida, exibida, praça enfeitando a Avenida principal, dividindo ruas, acolhendo feiras. Elas estão espalhadas por todos os lados.
Aliás, em Rio Grande, cidade que administra o balneário Cassino e fica a uns 20 quilômetros de distância, elas também se sentem à vontade. E dá-lhe praça!
É a Praça Xavier Ferreira, 07 de Setembro – gaúcho gosta de Setembro, né? – e a Praça Tamandaré, que dizem ser a maior do interior do estado e tem um monumento com os restos mortais do Bento Gonçalves.
Em todas essas praças, de um jeito ou de outro, lá estão eles, os banquinhos. Dividem espaço com brinquedos, com pipoqueiro, com patos, macacos, ou não dividem nada com ninguém.
E em toda praça tem um coreto, certo? Não necessariamente! Conheço praças bastante dignas que nem sabem o que é isso. E as estátuas? Lá estão elas, paradinhas, esperando entrar na foto ou virar um cartão postal.
As praças do interior são assim. Fazem questão de manter uma pluralidade, se multiplicam e se diferenciam de maneira sutil, ou nem tão sutil assim. E em todas, lá estão os meus apaixonantes banquinhos. Ficam por ali. Sofrendo todo tipo de intempérie, a ação dos anos e com as ações do homem. Pobres bancos. Mas apesar de tudo, e graças a tudo, as pracinhas carregam muita história.
Já namorei tanto nesses banquinhos. Ainda bem que eles não falam… Brincadeira. Mas, vamos confessar: quem nunca namorou num banco da praça que atire a primeira pedra, né?
Foi numa pracinha no Cassino que ouvi falar no Skylab. Lembram? Uma estação espacial que caiu na terra e todo mundo ficou com medo de morrer? Também foi numa pracinha de lá que vi o primeiro cigarro de maconha (opaaaaa).
Foi numa praça do interior que chorei a primeira vez no ombro de um amigo por ter levado um chifre fe-no-me-nal.
Pequenas e grandes historietas de bancos da praça que mantêm sempre aquele ar de que o tempo não passou por eles. São tempos de saudade, tempos de lembranças, de recordações.
O tempo numa praça parece que é diferente; fica suspenso, sem se esgotar, sem ir embora. O tempo nelas vira menino, parece que dança ao som de uma leve brisa.
Numa praça o tempo passa em câmera lenta. E pra minha tristeza, quando vai embora, não volta mais. É como diz o poeta: o tempo não para. Pode até ser devagar, mas não para. E no banco da praça parece que ele se diverte muito brincando com a gente.
Ah, claro, não poderia falar de praça e bancos sem citar eles: os pombos das praças. Mas, quer saber? Esse já é assunto para as estátuas…