A menina segurava a flor. O vento batia em seu cabelo ralo. Os pés no
chão sentiam o frio da madrugada. Ela não passava de uma mancha na paisagem. As
mãos ensanguentadas tremiam. Mas ela segurava a flor cada vez com mais força.
Começou a chorar. Chorou tão alto que os bichos da noite se esconderam
na mata próxima. Ninguém passava por ali.
Lá atrás o carro da família ainda estava de cabeça para baixo.
A menina só queria mostrar a flor ao pai que dirigia. Uma distração. E
a vida mudou o rumo.
Não restava carro, nem família, nem destino. Só a flor que agora já se
desfazia com a ventania.
A menina ficou ali até o sol nascer. Sem consolo, tendo a solidão por
companhia.
Ninguém veio ao seu socorro. Ela começou a andar. No horizonte o sol
passou a brilhar alto. As sirenes da polícia não abalaram a menina, que
simplesmente andou, andou, até secarem as lágrimas.
A flor se foi, o tempo passou e a menina virou mulher. Mora nas ruas,
sem rumo. Se perdeu na rodovia e na vida.
* TEXTO PUBLICADO NO LIVRO "BAR DO ESCRITOR - TOMO IV" http://bardoescritor.blogspot.com.br/p/livros-do-bde.html
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