terça-feira, 11 de setembro de 2012

memórias (reedição)





** TEXTO QUE ESCREVI QUANDO O CHICO ANYSIO MORREU, MAS ACHO BASTANTE PERTINENTE NESTE 11 DE SETEMBRO. REEDITADO.

quando o ayrton senna morreu, em 1994, eu estava*...TODO MUNDO que eu conheço sabe me dar uma resposta.é impressionante como todos sabem o que faziam no dia , na hora e no segundo em que morre um ídolo. é difícil lembrar o que fiz ontem, ou do café da manhã, mas lembro direitinho quando em 1980 john lennon foi assassinado. 
eu tinha lá meus 9 anos. lembro porque meu pai não parava de chorar:
 - e quem morreu? 
- o lennon minha filha, aquele da musiquinha da lucy, sabe? 
sim, eu sabia. meu pai procurava tanto, mas tanto o tal disco do sgt pepper's ,que quando conseguiu comprar lá em casa só dava ele. tocava 24 horas. e dá-lhe good morning e o galo todo dia. meu paciente pai me explicou uma por uma quem eram aquelas pessoas na capa. sim, eu sabia quem era o lennon que tinha morrido. e estava sentada no sofá verde da casa velha de arroio grande quando meu pai chegou aos prantos. a televisão não estava pegando direito (naquele tempo era na base da antena, o pai subia pro telhado e a mãe ficava gritando: mais pra direita, mais pra esquerda, assim, assim.) é... tv naquele tempo não era fácil. a gente ficava sentado em frente a ela esperando vir o sinal da tuiuti e enquanto não abria o canal ficava na tela a imagem de uma antena de tv com chuvisco e um cara falando que o sinal ia chegar. faz tempo mesmo. 
enfim, voltando ao assunto, lembro também quando pouco depois, já com 11 anos, eu estava com minha mãe no quarto da casinha do cassino (lá no rio grande do sul), quando vem a notícia: elis regina morreu. na minha cabeça infantil eu não entendi como um artista morria de overdose e bebida alcoólica e como ninguém estava por perto. eu sentada na cama, e minha mãe tentando fazer uma maquiagem que teimava em borrar por causa das lágrimas. o bêbado e a equilibrista era uma música de cantar no chuveiro. e artista cheira cocaína? pensava eu, quase endeusando a categoria (naquela época as pessoas eram celebridades pelo talento, diferente do que é hoje). 
lembro em 1996, eu já com meus vinte e poucos anos, acordo num sábado e sou tragada pela notícia de que o avião do mamonas assassinas tinha caído. era começo do ano, março se não me engano, e naquele mesmo começo de ano eu tinha assistido a um show deles no primeiro planeta atlântida da história. me caiu as tranças! 
em seguida me morre renato russo. eu estava no trabalho quando uma amiga da globo me liga e pede pra eu dar um testemunho sobre a morte de renato russo. como assim? eu nem sabia que ele tava doente. pois tava, e chorei. foi a primeira vez que chorei porque morria um ídolo. e nunca esqueci que estava com os fones nos ouvidos (eu trabalhava como rádio escuta) e fui pra varanda fumar e chorar. 
depois vieram o kurt cobain, o michael jackson. em ambas as mortes eu estava trabalhando. 
quando alguém importante, pra gente, morre sempre lembramos o que estávamos fazendo. é fato. o 11 de setembro não tinha ídolos, mas eu estava comprando o sapato do meu casamento no conjunto nacional quando fiquei embasbacada em frente a tv do ponto frio. o mundo parou. eu lembro de pensar : fudeu, vou ter que ir correndo pra tv e não vou comprar o bendito sapato, mas também , se o mundo abacar não vai ter nem casamento, sapato pra quê? (sim, esse foi o meu pensamento egoísta instantâneo), depois veio a consciência do momento histórico e trágico que estavamos presenciando. o que me leva a lembrar que na guerra das malvinas (aliás, no mesmo ano que morreu a elis regina) eu me divertia à beça catando restos de remédios, pedaços de paraquedas e o que mais aparecesse na beira da praia (os detritos da guerra iam parar lá no cassino, o balneário). 
e a memória da gente é assim, seletiva. será que daqui a 20 anos vou lembrar o que estava fazendo quando o chico anysio e o millôr morreram? e do que fazia quando o saramago morreu? hoje eu lembro: estava trabalhando. e meu coração já não é tão mole, e eu não chorei. com certeza o lugar pra onde eles foram ficou no mínimo mais interessante, né? e eu? eu trabalho amanhã. se alguém morrer nem vou lembrar...será? 






*a saber, o senna morreu em 01 de maio de 1994, durante o grande prêmio de san marino e eu estava dormindo. acordei com o meu irmão chorando e fiquei o dia inteiro vendo as mesmas cenas daquele maldito acidente e do capacete que o galvão insistia em dizer que tinha se mexido. lembram?

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