quinta-feira, 11 de outubro de 2012

a meleca e o "cerumano"



se tem uma coisa que é nojenta é gente mexendo no nariz. tá, tirar uma meleca aqui, outra ali, quem nunca? mas vamos combinar, as pessoas estão perdendo o pudor. antes flagrava-se um "cerumano" porco lá de vez enquando. agora eles estão em todos os lugares. antes as pessoas mexiam no nariz na intimidade do banheiro ou do quarto. no máximo na solidão da sala, vendo TV, deitado no sofá. evidentemente não falo de priscas eras onde se oficializou o direito à escarrada ao se distribuir potinhos chiques pela casa na mais nobre porcelana decorada. falo do século xxi, onde, teoricamente, e muito teoricamente, o "cerumano" já evoluiu um pouquinho. embora haja controvérsia sobre essa evolução, o fato aqui é que não cuspimos mais em escarradeiras nem comemos com as mãos. quer dizer, quase nenhum de nós. enfim, vamos supor que todos tenhamos evoluído um pouquinho e que sim, espera-se um pouquinho de civilidade alheia e de respeito ao próximo. outro dia fui a um consultório médico. clinica chique, cara, médico disputadíssimo. fiquei numa sala de espera. televisão led, 42 polegadas, ligada no programa de variedades. três atendentes uniformizadas. como boa observadora, aproveito esses momentos de tédio para ficar de olho no que as pessoas andam fazendo. ou simplesmente pego um livro e esqueço do mundo. nesse dia o caso foi de ter mais uns sete pacientes esperando comigo e nenhum livro. chance de prestar atenção numa vasta opção de detalhes. e assim foi. não é que quase todos os homens que estavam lá coçaram o saco e mexeram no nariz? sim, entre eles um engravatado. enfiou o dedão bem lá no fundo pra tirar o nacão da nareba. e fez o quê com a meleca? não vi, preferi não observar tantos detalhes. um outro nem disfarçou, pegou a meleca e ficou fazendo bolinho, sabe? ficou enrolando nos dedos? é nojento? é, mas ali ninguém se importou. uns tossiam e nem se davam o trabalho de colocar a mão na boca, espalharam logo aqueles perdigotos por todos os cantos. outro espanto é ver que os motoristas também perderam o pudor de mexer no nariz. se o carro do porcão tivesse película e as janelas ficassem tapadas, ok, ninguém tá vendo. mas não. vai sem película mesmo. parou no sinal? dedão no nariz. e mais uma vez me pergunto o que é feito da meleca que sai de lá de dentro...dizem que nada é mais nojento do que você se preparar  para colar a sua meleca e já ter  uma meleca dura no lugar. uma meleca alheia, porque meleca própria pode. e aqui em brasília, com a seca que tá fazendo, os narizes não produzem meleca, produzem pedregulhos. com sangue. um horror. o que acho mais incrível é que as pessoas perderam o pudor e nem se deram conta disso. ou não se importam. coçar o saco na frente da galera é normal. coçar a orelha e tirar cera é normal. o pior, mas o pior de tudo mesmo, é que quem perde o pudor para tirar meleca do nariz perde o pudor para qualquer coisa. perde o respeito e a civilidade. o "cerumano" tira meleca, bate na mulher, cospe na rua, coça o saco, mata o cachorro, espanca a mãe. vale tudo, qualquer coisa. é tudo normal. é por isso que fica difícil acreditar numa sociedade que não se importa. não é discurso de burguezinha pudica não. é um desabafo de uma pessoa que não entende como os homens podem tratar o respeito como se fosse um favor. respeito não é opcional. seja onde for. em casa, no trabalho, no trânsito, no elevador. e são nos pequenos gestos que a gente sabe se a pessoa perdeu o respeito e a civilidade, se a pessoa é um ser humano ou um "cerumano". e eu tô cansada do "cerumano". muito cansada...

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