banco da praça das caturritas |
"a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim"... sou fascinada por praças. nelas o tempo se perde (muitas vezes até dele mesmo). nasci numa cidadezinha do interior , em arroio grande, lá no rabicho do rio grande do sul, quase fonteira com o uruguai. típica cidade interiorana, com direito a calçadão, praça em frente a igreja...brincar ali era o que havia de mais divertido no mundo! tinha escorregador e um brinquedo que girava com a força do braço onde sempre um acabava se machucando.
perto de casa até tinha outra pracinha, mas essa não dava as mesmas aventuras da praça principal. valia a pena andar uns quarteirões. os pontos altos dela eram no desfile de 07 de setembro, quando ficava lotada e todo o mundo ia ver as escolas públicas se apresentarem com suas bandas e balizas, e no carnaval, onde ela se dividia em camarotes. a cidade inteira ocupava a praça pra ver os blocos de rua desfilarem. é tradição até hoje por lá.
aproveito pra confessar: os bancos das praças me seduzem de tal maneira que quando chego a um lugar que nunca fui antes a primeira coisa que faço é sentar num deles. me perco observando a vida dançar na minha frente. cada pessoa que passa carrega uma história. umas com pesar, outras com alegria. aliás, não há tempo mais precioso do que aquele que se gasta sentado em um banco de praça absorvendo as idiossincrasias alheias. sempre que faço isso tenho a estranha mania de inventar um passado, um presente e um futuro pra quem passa pela praça. depende do andar apressado, da roupa amassada, se sorri, se olha pros lados. inventar a vida do outro é reinventar a nossa aos pouquinhos.
no balneário cassino, aquele cantinho que considero meu segundo lar, o que não falta é praça. tem atrás da casa da minha mãe, em frente, ao lado, escondida, exibida, praça enfeitando a avenida, dividindo ruas, acolhendo feiras. elas estão espalhadas por todos os lados.
aliás, em rio grande (cidade que administra o balneário) elas também se sentem à vontade. e dá-lhe praça! é a praça xavier ferreira, sete de setembro - sim, gaúcho gosta de setembro, né? a praça tamandaré, que dizem ser a maior do interior do estado e tem um monumento com os restos mortais do bento gonçalves (aquele herói da revolução farropilha). podem ser grandes, com brinquedos diversos, podem ser mais tímidas, umas tem até patos e macacos. e tem praça com bancos, e só. ah já namorei tanto nesses banquinhos. ainda bem que eles não falam e não contam nada pra ninguém (quem nunca namorou num banco da praça que atire a primeira pedra, né não?).
foi numa pracinha no cassino que ouvi falar no skylab (lembram? uma estação espacial que caiu na terra e todo mundo ficou com medo de morrer?). também foi numa pracinha de lá que vi o primeiro cigarro de maconha (opaaaaa). foi numa praça na avenida que chorei a primeira vez no ombro de um amigo por ter levado um chifre fe-no-me-nal. pequenas e grandes historietas de bancos da praça.
em brasília temos a famosa e tão conhecida praça dos três poderes. impontente, poderosa, soberana. já trabalhei muito nos arredores dela (e xinguei muito toda vez que não conseguia vaga pra estacionar). essa praça também fez parte da minha adolescência. a gente ia pro panteão da independência, para a casa de chá (a antiga casa de chá, que ficava no subsolo, em frente ao panteão, e durante um bom tempo passou a abrigar um boteco que tocava muito rock´n roll...) aquilo ficava cheio. e foram noites e noites de festa. a polícia marcava presença pra dar baculejo, mas basicamente ninguém incomodava ninguém. era pura diversão. e lá estavam eles, os bancos. banquinhos que ficavam lotados e muitas vezes nos obrigavam a procurar um canto pelo chão mesmo pra sentar. o legal era subir a cúpula da câmara dos deputados no congresso ou fazer desenhos corporais com as sombras dos ministérios e até mesmo brincar de "pique-bandeira". mas ai já são histórias pra depois.
em brasília não faltam parques, que acabamos adaptando pras nossas necessidades "pracisticas": na falta de uma, todo parque tem um banquinho à sombra da árvore, ou uma pistinha de corrida, ou um brinquedinho infantil.
e em toda praça tem um coreto, certo? não necessariamente! conheço praças bastante dignas que nem sabem o que é isso. e as estátuas? lá estão elas paradinhas, esperando entrar na foto ou virar um cartão postal.
as praças, são assim. fazem questão de manter uma pluralidade, se multiplicam e se diferenciam de maneira sutil, ou nem tão sutil assim. e em todas, lá estão os meus apaixonantes banquinhos. ficam por ali. sofrendo todo tipo de intempérie, a ação dos anos e com as ações do homem. mês passado editei uma reportagem sobre o sacrilégio de um empresário que simplesmente espalhou bancos inúteis pela cidade: tacava uma propaganda no encosto de um banco muito do mequetrefe e jogava em lugares em que o único movimento era o de carros, na clara intenção de apenas se fazer ver, sem sombras por perto e sem funcionalidade. pobres bancos. mas apesar de tudo, e graças a tudo, as pracinhas estão ai. e mantêm sempre aquele ar de que o tempo não passou por elas. são tempos de saudade, tempos de lembranças, de recordações. tudo caminha num passo mais lento.beeeeeeem devagar. o tempo numa praça parece que é diferente, fica suspenso, sem se esgotar, sem ir embora. o tempo nelas vira menino, parece que dança ao som de uma leve brisa. ah esse tempo que se diverte a me pregar peças, como hoje, quando eu conversava com o braga (apresentador do telejornal que trabalho).
– deca , lembra de tal coisa?
– sim, lembro.
– pois é, já faz 15 anos.
– quê?
– é...e lembra do tal shopping? faz 15 anos que inaugurou
– caralho!!! e eu ainda tenho ele como o "shopping novo da cidade". assim é. quando se tem 15 anos a expectativa de mais outros 15 se torna uma estrada interminável, mas aos 40 , como é o meu caso, 15 anos atrás foi apenas ontem. e numa praça parece que esse ontem nunca passou, ele só deixou de existir. você senta lá, fica quieto, ouvindo passarinhos, ou crianças, ou nada....
praça das caturritas no Cassino |
ou como eu, fica ouvindo caturritas (já que na minha praça preferida existem dezenas de ninhos) e o tempo lá também passa em câmera lenta. e pra minha tristeza quando vai embora, não volta mais. é como diz o poeta, o tempo não pára (pára - assim mesmo, com acento diferencial porque odeio a reforma ortográfica). pode até ser devagar, mas não pára. e no banco da praça parece que se diverte aos montes brincando com a gente.
ah, e os bombos da praça? quer saber? esses já são assunto para as estátuas...
Eu gostei muito....tambm adoro praças!!!=)
ResponderExcluirDoreiii a pracinha...se pudesse tinha uma na frente da minha casa..beijos.
ResponderExcluirah se eu pudesse também...tem pracinha na quadra,mas do jeito que brasília tá abandonada tem muito mato alto e sujeira junto....
Excluirné? adooooro. hehehe
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