domingo, 1 de abril de 2012

memórias

quando o ayrton senna morreu, em 1994, eu estava*...TODO MUNDO que eu conheço sabe me dar  uma resposta.é impressionante como todos sabem o que faziam no dia , na hora e no segundo em que morre um ídolo. é difícil lembrar o que fiz ontem, ou do café da manhã, mas lembro direitinho quando em 1980 john lennon foi assassinado. eu tinha lá meus 9 anos. lembro porque meu pai não parava de chorar - e quem morreu? - o lennon minha filha,  aquele da musiquinha da lucy, sabe? sim, eu sabia. meu pai procurava tanto, mas tanto o tal disco do sgt pepper's ,que quando conseguiu comprar lá em casa só dava ele. tocava 24 horas. e dá-lhe good morning e o galo todo dia. meu paciente pai me explicou um por um quem eram aquelas pessoas na capa. sim, eu sabia quem era o lennon que tinha morrido. e estava sentada no sofá verde da casa velha de arroio grande quando meu pai chegou aos prantos. a televisão não estava pegando direito (naquele tempo era na base da antena, o pai subia pro telhado e a mãe ficava gritando: mais pra direita, mais pra esquerda, assim, assim.)é... tv naquele tempo não era fácil. a gente ficava sentado em frente a ela esperando vir o sinal da tuiuti e enquanto não abria o canal ficava na tela a imagem de uma antena de tv com chuvisco e um cara falando que o sinal ia chegar. faz tempo mesmo. enfim, voltando ao assunto, lembro também quando pouco depois,  já com 11 anos, eu estava com minha mãe no quarto da casinha do cassino (lá no rio grande do sul), quando vem a notícia: elis regina morreu. na minha cabeça infantil eu não entendi como um artista morria de overdose e bebida alcoólica e como ninguém estava por perto. eu sentada na cama, e minha mãe tentando fazer uma maquiagem que teimava em borrar por causa das lágrimas. o bêbado e a equilibrista era uma música de cantar no chuveiro. e artista cheira cocaína? pensava eu, quase endeusando a categoria (naquela época as pessoas eram celebridades pelo talento, diferente do que é hoje). lembro em 1996, eu já com meus vinte e poucos anos, acordo num sábado e sou tragada pela notícia de que o avião do mamonas assassinas tinha caído. era começo do ano, março se não me engano, e naquele mesmo começo de ano eu tinha assistido a um show deles no primeiro planeta atlântida da história. me caiu as tranças! em seguida me morre renato russo. eu estava no trabalho quando uma amiga da globo me liga e pede pra eu dar um testemunho sobre a morte de renato russo. como assim? eu nem sabia que ele tava doente. pois tava, e chorei. foi a primeira vez que chorei porque morria um ídolo. e nunca esqueci que estava com os fones nos ouvidos (eu trabalhava como rádio escuta) e fui pra varanda fumar e chorar. depois vieram o kurt cobain, o michael jackson. em ambas as mortes eu estava trabalhando. ah lembrei.vale nota: conheci james dean porque alguém usava uma camiseta escrita "30 anos sem james dean" . curiosa, fui saber quem era. quando alguém importante (pra gente) morre sempre lembramos o que estavamos fazendo. é fato. o 11 de setembro não tinha ídolos, mas eu estava comprando o sapato do meu casamento no conjunto nacional quando fiquei embasbacada em frente a tv do ponto frio. o mundo parou. eu lembro de pensar : fudeu, vou ter que ir correndo pra tv e não vou comprar o bendito sapato, mas também , se o mundo abacar não vai ter nem casamento, sapato pra quê? (sim, esse foi o meu pensamento egoísta instantâneo), depois veio a consciência do momento histórico e trágico que estavamos presenciando. o que me leva a lembrar que na guerra das malvinas (aliás, no mesmo ano que morreu a elis regina) eu me divertia à beça catando restos de remédios, pedaços de paraquedas  e o que mais aparecesse na beira da praia (os detritos da guerra iam parar lá no cassino, o balneário). e a memória da gente é assim, seletiva. será que daqui a 20 anos vou lembrar o que estava fazendo quando o chico anysio e o millôr  morreram? e do que fazia quando o saramago morreu? hoje eu lembro: estava trabalhando. e meu coração já não é tão mole, e eu não chorei. com certeza o lugar pra onde  eles foram ficou no mínimo mais interessante, né? e eu? eu trabalho amanhã. se alguém morrer nem vou lembrar...será? 

*a saber, o senna morreu em 01 de maio de 1994, durante o grande prêmio de san marino e eu estava dormindo. acordei com o meu irmão chorando e fiquei o dia inteiro vendo as mesmas cenas daquele maldito acidente e do capacete que o galvão insistia em dizer que tinha se mexido. lembram?

2 comentários:

  1. Deca, vc me fez lembrar dos meus momentos. Quando Renato Russo morreu , eu estava trabalhando ... Oh, sina. Era locutora do conjunto nacional. Aquela da voz " faca a higiene do seu bebe com muito carinho. Procure o fraldaria, na ala norte, pavimento térreo. Conjunto nacional, o shopping do coração de Brasília" . Sei que muita gente passa por lá e nem percebe a voz ou a música que toca baixinho. Mas naquele dia eu chorei. Chorei porque amava e amo Renato Russo. Então, catei o cd do legião urbana e aumentei o som de todas as caixas. Eram sete setores e mandei ver. Só legião. Um vigilante me ligou " Camila, o som esta alto aqui no segundo andar. As pessoas estão olhando pra cima, achando estranho". Nem adianta reclamar. Hoje morreu o homem que cantava meus sentimentos de adolescentes e todos vão ter de ouvi-lo. No 11 de setembro, estava de ferias, em casa. Vi tudo pela TV enquanto comia misto quente que a empregada fez pra mim. Tive pensamento egoísta também. Pensei. Se o mundo for acabar, eu preciso viajar. Se esta todo mundo em pânico, ninguem vai gastar dinheiro. Opa. Fui na agencia de viagem e voei pra Costa do Sauipe e pro Club med itaparica. Passei 15 dias sem tv curtindo os últimos dias antes de a grande guerra. Quando voltei, queimada de sol, só me lembro da Zileide que aparecia de hora em hora na televisão me contando tudo que nao sabia. Tinha me isolado do mundo. Desta época, me recordo do gosto das caipiroscas e da música baiana. Lá tudo é festa e carnaval. Até depois de 11 de setembro. Beijos. Camila Guimarães, jornalista

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  2. camilete...é isso amiga. assim vivemos, levando os bons - e outros nem tanto - momentos na nossa bagagem...é sempre legal relembrar...e todo mundo lembra desses dias ai importantes...acho que vc foi uma sábia ao ver que o mundo ia acabar e saiu pra viajar. salve camila!

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